sexta-feira, 11 de julho de 2008

MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA BUSCAM OPORTUNIDADE

A falta de escolaridade não é o maior fator para essas pessoas estarem nas ruas e, sim, a falta de oportunidade

Durante a reunião do Forum das ONG's, em 20/05/2008, foram apresentados dados da FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas -, que apontam, atualmente, 13 mil moradores em situação de rua na cidade de São Paulo, onde 8 mil são atendidos pela rede de serviços sociais e 5 mil estão nas ruas, sem passar por esse serviço.

Em entrevista com Alice de Alencar, coordenadora do Cor Albergue Esperança, localizado no bairro de Pinheiros, em 21/05/2008, ela informa que não há perspectiva de aumento na rede de albergues na cidade de São Paulo, mas há uma perspectiva no aumento de mil pessoas por ano na situação de rua, pela própria condição socioeconômica em que o país está vivendo.

Segundo Alice de Alencar, o trabalho das equipes para socializar essas pessoas é de um ano e não de seis meses conforme convênio firmado com a Prefeitura. As equipes precisam de um período de três a quatro meses para construir um vínculo de confiança com essas pessoas, descobrir o que realmente aconteceu na vida delas, tentar entendê-las para a partir daí trabalhar no resgate da sua auto estima, fazendo com que elas se vejam como pessoa e possam resolver suas questões particulares.

Existem dois tipos de moradores de rua: a população da rua que não consegue mais o convívio social, não sabem utilizar o banheiro, usar o talher para comer, não conseguem tomar banho e já está estabelecida na rua. Essas pessoas não têm mais referências de sociedade, não têm higiêne e perderam a identidade. Por isso buscam o albergue somente para se alimentarem e não permanecem devido às regras de convivência estabelecida pelo local.

O segundo é a população que tem vulnerabilidade social. Não estão fixados nas ruas, pois a temem. Não têm para onde ir e procuram o albergue para se estabelecerem. As equipes dos albergues trabalham com essas pessoas em cima de regras, organização e manutenção de um ambiente limpo e educativo. Apesar delas já irem pré dispostas a permanecerem no albergue, chegam com medo, mas após uma semana fazem vínculos de amizade com os usuários e até mesmo com os próprios funcionários.

O albergue tem uma equipe de pedagogos, assistentes sociais e agora psicólogos que trabalham a auto estima e a recuperação da identidade dessa população para que ela possa se reintegrar na sociedade. Primeiramente, cuidam da saúde, pois muitos chegam tuberculosos, fracos, com problemas de alcoolismo e higiêne; o segundo passo é a questão da escolaridade e profissionalização dessas pessoas, através de parcerias com ONG's, que ministram cursos de qualificação profissional e do CIEE com o ensino supletivo, para que elas possam encontrar uma porta de saída dessa condição; o terceiro passo é preparar a pessoa emocionalmente para seu retorno ao mercado de trabalho; no quarto passo as equipes incentivam essas pessoas a participarem do Fórum de Discussão da População de Rua para que elas aprendam a exercer sua cidadania; e no quinto passo buscam com eles um trabalho.

Alice de Alencar informa que, através de uma pesquisa realizada pela Universidade Mogi das Cruzes, em 2007, o índice de analfabetismo dentro dos albergues de São Paulo é menor que o índice do Brasil e o índice de nível superior é maior que o índice do Brasil. Neste caso, a falta de escolaridade não é o maior fator para essas pessoas estarem nas ruas e, sim, a falta de oportunidade.

Informa ainda, a falta de participação dos técnicos em assistência social da Prefeitura de São Paulo nas reuniões que são realizadas para discutir a atual situação dessa população. "Seus nomes constam na ata da reunião, porém não comparecem".


Por Andrea Machado